ENQUANTO OBAMA SE ALEGRA COM AS APRESENTAÇÕES DE CAPOEIRA...
A
visita do Presidente dos Estados Unidos ao Brasil tem causado grandes
impactos em nossa sociedade, seja por parte da população, querendo ver o
Presidente da maior potência mundial, querendo acreditar ser este sonho
possível e, de outro, o Governo Brasileiro e empresários havidos por
fecharem negócios de interesse para ambos os lados. No meio disso tudo
ficam os artistas brasileiros, “convidados” para darem seu show
particular (ou seria coletivo) para o primeiro presidente negro na
história dos Estados Unidos e sua família.
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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr |
Como
não poderia deixar de ser, diversas foram às apresentações culturais
voltadas para a comitiva de Barack Obama. Na capital federal um dos
destaques foi à apresentação de capoeira e aqui, no Rio de Janeiro, além
da Capoeira, houve a participação do Grupo Cultural Afro Reggae.
Porque estou
falando sobre isso? Não é de hoje que os governos se utilizam das
culturas africanas e afro-brasileiras para divulgarem a imagem do Brasil
para o mundo. A nossa Capoeira, como uma das nossas maiores
embaixadoras culturais no mundo, sempre é lembrada. Acho muito bom que
isto aconteça. Mas porque só se lembram de nossas culturas nestes
momentos. Se estas são tão importantes, porque até hoje não implantaram
as leis que tratam da temática étnico-racial como política pública para
as áreas de educação e cultura no processo de ensino e aprendizagem das
redes públicas e privadas de ensino por esse país afora?
As alterações
na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) ocorridas em virtude das
Leis 10.639/2003 e 11.645 de 10 de março de 2008; o parecer nº 03/2004
do Conselho Nacional de Educação/CNE/Conselho Pleno – CP – Ministério da
Educação – MEC, da Resolução nº 01/2004 do Conselho Nacional de
Educação, do Art. 3º do Decreto 6040, de 07 de fevereiro de 2007, da
Deliberação 04/2006 do Conselho Estadual de Educação – CEE / RJ não vão
sair do papel? Por quê? Claro que alguns avanços ocorreram, mas ainda
são muito poucos.
Enquanto isso...
Enquanto
a nossa história não é contada como deveria em nossas escolas,
continuamos realizando festas para agradar a gregos e troianos, e agora,
também, aos americanos. Nada contra realizarmos festas, somos um povo
festeiro. Mas enquanto são gastos milhões para "festas" com autoridades
como estas, os "Zeladores" de nossa cultura estão partindo para “outro
nível” sem que tenham tido, em vida, o reconhecimento do Poder Público
constituído.
Do “show”... para o cemitério
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Mestre Vieira à direita na foto |
Depois
de uma bela apresentação de Capoeira na Cidade de Deus, que com certeza
ficará na memória de muitos e muitas dos (as) que ali estivam, a
Capoeira do Rio de Janeiro está de luto. Morreu ontem, de tuberculose, o
Mestre Vieira, grande Mestre de Capoeira de nosso Estado, por volta das 19 horas. Mestre Vieira
foi um precursor de grandes eventos de Capoeira em nosso Estado. Com
uma grande consciência racial, tinha a preocupação de transmitir o seu
conhecimento para os jovens, ensinando-lhes a importância da preservação
de nossa cultura. Lembro-me quando, na época do Campeonato
Pan-Americano de 2007 o Mestre Vieira esteve comprometido na realização de um grande evento de Capoeira denominado CAPOEIRA DO RIO É PAN.
Incansável em sua luta pela preservação e divulgação de nossa arte, uma
de outras de suas grandes obras era uma grande Roda de Capoeira com uma
suculenta feijoada para comemorar o Dia 20 de Novembro – Dia Nacional da Consciência Negra. Bom, Mestre Vieira,
descanse em Paz. Com certeza o legado deixado por ti para as futuras
gerações por nós será preservado. Que Deus esteja convosco.
TEXTO ESCRITO PELO: MESTRE PAULÃO- @mestrepaulao