quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Desabafo....

Isso é um desabafo meu e não tem nada haver com o grupo, se não tiver interesse em saber o que eu tô pensando, nem precisa perder o tempo de ler isso tudo. ;)


Por esses dias eu tenho visto, vários comentários, críticas e discussões nas redes sociais e a plenos pulmões sobre nomenclatura que deve ser dada ao capoeirista. Se deve chamar de Contramestre ou de Mestrando, se o mestre em último grau deve-se chamar grão mestre ou apenas mestre, se é pra jogar apenas regional ou jogar só angola e por aí vai...
Rótulos estão sendo cada vez mais "aprimorados" no dia a dia da capoeira, "a ginga deve ser padrão", "o nome do movimento executado tem que ser igual em qualquer lugar".
E eu vejo que ultimamente está se dando muito valor ao que se diz e cada vez menos o capoeirista está se importando com o que está fazendo.
Capoeira tem inúmeras razões de ter sua licença poética para criar e fazer o que ela assim desejar.
 A Capoeira é viva! Ela traz em sí uma força grande demais para ser taxada "disso" ou "daquilo". Ela é tão forte e tão cheia de energia que as vezes a sensação que tenho, na minha humilde vivencia, é que ela vai tocar na gente. Capoeira tem cheiro, tem cor, tem ritmo e tem personalidade.
Se eu executo a ginga da maneira que o meu corpo acha adequado e se executo o movimento da maneira correta, por que eu devo tirar a expressividade do meu corpo para dar vazão ao movimento do corpo de outrem? Nunca entendi isso sinceramente...
A capoeira é bonita justamente porque ela pode ser feita em qualquer lugar do mundo, ela pode ser apreciada por qualquer um que a queira saborear e jamais no universo inteiro, o movimento que meu corpo faz vai ser copiado, pois é um movimento único. Posso até fazer aproximadamente o que o camarada fez, mas só ele vai fazer de novo porque foi ELE quem o fez.
A capoeira tá no sorriso da pessoa no berimbau, tá na resposta do corrido de desafio, tá no olhar de quem levou a rasteira e na malícia de quem a deu. Capoeira não tem padrão e não tem credo. Se entrou na roda, é porque quer jogar, então vamos jogar CAPOEIRA.
O iniciante joga capoeira, o mestre joga capoeira, o aluno antigo e o aluno novo. Quem parou e voltou também joga capoeira, e quem quer começar a aprender vai jogar capoeira.
Porém colocar a nomenclatura, a corda, o título, ou qualquer outra coisa na roda... ah camarada, ela não vai jogar não!!!
Capoeira deve ser respeitada e valorizada. Devemos parar mais para treinar a execução do movimento, aprender coisas novas, defesa, ataque, floreio, toque, musica, a confecção do instrumento, são tantas coisas que se pode aprender...
 Deveria se ter mais respeito ao Mestre de Capoeira, aquele que ensina e que na grande maioria, vive pra dar nome ao seu ensinamento.
Ajudar o mestre é obrigação do aluno. Ele disponibilizou tempo e sua sabedoria para ensinar a quem quer aprender. Muitos Mestres não cobram e ou cobravam pouco de seus alunos. E o que eu vejo hoje é que, as vezes  o fato do mestre facilitar o ensinamento faz com que o aluno se desobrigue da sua responsabilidade. Maior erro, e um ledo engano.
Há Mestre de capoeira e também Mestre na capoeira.
Vejo uma escalada na pirâmide hierárquica (eu ainda peguei o tempo de hierarquia, acreditem, tem gente que nem sabe mais o que é isso), sem saber o valor do pequeno, querendo ser o maior e o mais triste, sem querer carregar a bagagem que o tempo de capoeira faz você levar nas costas.
 Muitos e muitos estão preocupados com o status que podem possuir, com os nomes dos quais serão chamados e esquecendo de origem, fundamento e da filosofia que a capoeira traz para nossa vida.
Graduação ao meu entendimento é um incentivo e uma forma de distinguir as experiências, e não uma maneira de se exigir respeito. Esta mesma experiência é que deve ser respeitada principalmente  quando vemos um Mestre dando lição de vida e de capoeira. Graduação é importante sim, mas não é o foco da história.
Estou falando de MESTRE, e não de pessoas que se intitulam mestres e que nada tem a oferecer, nem a ensinar, afinal nunca pararam para aprender.
 Aprender é uma palavra de multi facetas, essa mesma palavra caminha com o capoeirista a vida inteira. Sábio aquele que é incansável na busca de aprender. Este sim tem o que ensinar.
A estrada é longa, o aprendizado é eterno, mas mesmo assim, tem muita gente que consegue entender as coisas com mais facilidade e nunca deixar de se enriquecer com uma vivencia dentro e fora da roda. É nato, e muitas vezes não se tem o título mas tem o porte e a postura de um Mestre. Para eles eu devo respeito.
Meu Mestre falou uma vez "a gente aprende olhando Dendê, e principalmente escutando mais que falando. Fale menos e ouça mais", essa verdade nunca mais saiu da minha cabeça...   
Tenho poucos anos de estrada, quase nada na verdade, mas tô tentando buscar o meu aprendizado. Procuro falar menos hoje e escutar mais. Nem sempre conseguindo, mas insistentemente tentando. Vou aprender isso também.
Mas o principal é treinar e deixar que a capoeira da alma fale mais alto que o título, que a corda, que a imposição. A experiência e o respeito chegam ao longo do caminho.
Ah, sou a favor da organização da capoeira. Para que fique claro,acredito que ela deva ser organizada de forma que todos os que vivem dela e que a desenvolvem estejam munidos pela lei, e que dessa maneira tenham de força para lutar pelos seus direitos. Sem limitar o mudar a característica de cada segmento, grupo, estilo e etc.
 Padronização da arte é outra coisa. Toda definição inibe o senso criador e como já falei anteriormente, a capoeira é viva, ela se renova a cada instante, é uma sobrevivente dos tempos. Por isso que resurge depois de tanta repressão, pois ela sempre encontra uma maneira de se sobressair. Sejamos como a nossa arte,  e entregue-se ao espírito de luta e de força, ela vai recompensar.
 O aprendizado é inesgotável e eu quero sempre mais.

Bom, isso não é um desabafo, sou um grão de areia pra capoeira, mas também não parei minha caminhada, espero realmente não agredir ninguém com essas palavras, mas senti a vontade de expressar essas inquietação que já habitava a minha consciência a algum tempo.


Até a próxima,

Monitora Dendê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário